sábado, 12 de novembro de 2011


Por Vanir Junior

A obra de Marc Bloch reflete bem o espírito da primeira fase da escola dos Annales. O historiador afirma, semelhantemente a Febvre, o homem como objeto de estudo da história. Assim, propõe uma abordagem da história não mais limitada por fatos e documentos, datas e todo tipo de erudição documental positivista do século XIX. Mas busca primordialmente a problematização e a construção do fato histórico, em detrimento do estudo do passado apenas pelo passado.
O historiador deve procurar significação e a ação do homem no contexto histórico e no espaço-tempo, estabelecendo uma ponte do passado com o presente. Assim, Bloch desconstrói a idéia de que a história é uma ciência do passado, mas diz que, antes de qualquer coisa, ela é uma ciência dos homens no tempo. Ele expõe a necessidade de uma história mais humanizada, de maneira a ser proposta a interdisciplinaridade com as outras ciências humanas, algo que vai ser marcante na primeira geração da Escola dos Annales e que seguirá como uma tendência do movimento. Ou seja, Bloch busca a significação social dos acontecimentos.
Assim, há o lançamento de uma crítica ao famoso “ídolo das origens”, prática muito comum entre historiadores envoltos pelo aspecto positivista do século anterior. A crítica é, ao mesmo tempo, uma resposta às ofensivas de Simiand. Bloch diz que a obsessão do estudo das origens faz com que os historiadores acreditem saber tudo somente pelo início dos acontecimentos, dando um aspecto de causalidade à origem, como se ela fosse suficiente para explicar todo um fato histórico, e diz que é neste pensamento que mora o perigo para os historiadores. As origens são espécies de armadilhas e Bloch demoniza tal aspecto. Além disso, afirma outro inimigo satânico da verdadeira história: a mania de julgamento. O historiador deve compreender o fato e não julgá-lo.
Bloch diz que o conhecimento das origens dos fenômenos não é suficiente para explicá-los. Os fenômenos devem ser problematizados, como ele diz. “A questão, em suma, não é mais saber se Jesus foi crucificado, depois ressuscitado. O que agora se trata de compreender é como é possível que tantos homens ao nosso redor creiam na crucificação e na ressurreição” (p.58).
Além disso, o historiador critica a divisão que se faz entre passado e presente. Bloch diz que há uma reciprocidade entre presente e passado (método regressivo). Um serve para entender o outro. Não estão desvinculados. É neste sentido que a história não deve ser entendida como ciência do passado. Para Bloch, é no jogo da importância do presente para se compreender o passado e vice versa que se desenvolve a ciência histórica.
Sobre a observação histórica, Bloch fala que não somente de fontes escritas que se estuda o passado, mas também a partir de testemunhos não escritos, na impossibilidade de constatar certos fatos. Ainda vai mais fundo ao dizer que o “historiador está na impossibilidade de ele próprio constatar os fatos” (p.69), pois, nas eras que o precedem, muitas vezes, só restam testemunhas. Ou seja, testemunhos não escritos. Sendo assim, o historiador deve se esforçar para reconstruir aquilo que ele viu, de forma indireta. “Em suma, em contraste com o conhecimento do presente, o do passado seria necessariamente ‘indireto’.” (p.69). E mesmo assim, o olhar dessa testemunha sobre o ocorrido não é suficiente para se compreender de forma totalmente exata algo do passado. É necessário que o historiador se utilize de vários recursos além de também se utilizar de outras disciplinas para interrogar os documentos. E, claro, neste processo, entra também o olhar do próprio historiador como elemento que integra a construção do fato.
Há muitas formas de se conhecer o passado, que Bloch diz ser imutável, mas, a forma como o historiador o interpreta pode modificar a percepção desse passado, conforme a visão do historiador. O conhecimento sobre o passado é um processo de mutabilidade constante.
Ainda a respeito das formas de se estudar o passado, o próprio Bloch, entretanto, relata a importância de não haver uma generalização neste aspecto e afirma também que nem sempre a observação do passado é indireta. Ha a possibilidade desta observação ser direta, pois tudo aquilo que é produzido (escritos, objetos, vestígios em geral) também pode ser avaliado e contribuirá para a geração de visões sobre o passado. Quer dizer, a relação com o passado pode ser indireta, pois não é possível retomar exatamente como foi o mesmo, e, ao mesmo tempo direta, pois há a utilização de vestígios, que fornecem as mais variadas visões sobre o passado. De qualquer forma, ambos os casos passam pelo crivo de construção do historiador.

Referências Bibliográficas:

BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Jorge Zahar Editor: Rio de Janeiro, 2002

12 comentários:

  1. ótimo, contribuiu bastante para a construção do meu artigo. Muito obrigado

    ResponderExcluir
  2. Livro maravilhoso fundamental na minha formação como professor de história ! Indispensável.

    ResponderExcluir
  3. Este livro é uma aula de história e de como se proceder na interpretação e compreensão de um fato histórico. Fiquei lisonjeado em ser um leitor desse livro. Onde está o botão para dar um joinha rsrs

    ResponderExcluir
  4. EXCELENTE TEXTO, AINDA NÃO LI O LIVRO MAIS DEPOIS DESSE TEXTO ESTOU ANSIOSO PARA LER... PARABÉNS.

    ResponderExcluir
  5. Ótimo texto, serviu de incentivo para ler o livro por completo. Parabéns!

    ResponderExcluir
  6. Muito obrigada,faz muito sentido o passado e o presente uma depende da outra estudamos os acontecimentos passados porque existe o presente

    ResponderExcluir